sexta-feira, 25 de maio de 2007

Os grampos e os intocáveis

O presidente Lula (Executivo), parlamentares de vários partidos (Legislativo), integrantes da Justiça (Judiário), empresas de comunicação e entidades classistas (sociedade civil) criticam ações da Polícia Federal. Sobrou quem?
Segundo o noticiário, Lula determinou que fossem apurados os eventuais excessos da Polícia Federal durante a Operação Navalha. O líder do PV, Marcelo Ortiz (SP), reproduziu para o Correio Braziliense a frase do presidente na reunião de ontem do Conselho Político: “Nós não podemos impedir a PF de trabalhar, mas isso não pode acontecer da forma como está. Porque não podem acontecer prisões com essa pirotecnia”. Segundo outros participantes, o presidente disse que “a PF tem que tomar mais cuidado. Às vezes, homens de bem são envolvidos e não têm como se defender”.
Pelo Legislativo, o líder do governo na Câmara, deputado José Múcio (PTB-PE), perguntou ao ministro da Justiça, Tarso Genro, diretamente: "Todos nós estamos grampeados?". Pelo Executivo, Tarso admitiu a verdade: "Eu não posso dizer nem que eu não esteja sendo", segundo contou Valdir Raupp.
No Senado, o líder do maior partido da oposição, Arthur Virgílio (PSDB-AM), deplorou: “Não é possível aceitarmos estado policial e prisões arbitrárias”. E o jornalista Merval Pereira conta que o senador Inácio Arruda, do PCdoB, partido aliado do governo, declarou em alto e bom som: "Não tenho dúvidas de que todos nós estamos sendo grampeados".
O Executivo estadual também anda apreensivo: o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), ao chegar no hotel em Brasília na noite de quarta-feira, foi questionado por uma loira sentada no saguão: “Já vai dormir?”. Ele, sem reduzir o passo, comentou: “Já sei, você é da Polícia Federal!”. E entrou correndo no elevador, sem nem olhar para trás.
Pelo Judiciário, o ministro do Superior Tribunal Federal, Gilmar Mendes, reclamou: "Não podemos permitir a instalação de um estado policial no país".
A direção da PF não pode responder, já que é subordinada ao ministro da Justiça e, é claro, ao presidente da República. Mas acionou o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal: “A Polícia Federal incomoda porque está pegando os corruptos no Executivo, no Judiciário e no Legislativo. Não haverá recuo”.
Com os meus botões, falo para qualquer grampo gravar que o Estado policial, arbitrário, não é bom pra ninguém. Seja no capitalismo, seja no socialismo derrubado no Leste Europeu. Corrupção se combate usando a legalidade, para que também os “combatentes” não se tornem intocáveis.

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