terça-feira, 22 de maio de 2007

No fio da navalha

Tina Vieira, do Jornal do Brasil, pegou o espírito da coisa: “À medida em que os detalhes da Operação Navalha da Polícia Federal são divulgados e as suspeitas avançam em direção ao Congresso, os políticos vão deixando de lado o discurso sobre a eficiência das comissões parlamentares de inquérito”. O esquema de fraudes em obras públicas descoberto pela Operação Navalha, da Polícia Federal, envolve até o momento membros de nove partidos, da base do governo e da oposição: PT, PMDB, PSB, PP, PL, PDT, PSDB, DEM e PPS.
Parlamentares que brandiam CPI pra baixo e pra cima, agora relativizam: “Não sou contra a CPI, mas acho que é preciso ver a sua eficiência”, disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que pugnou pela instalação da CPI das ONGs no Senado, e ponderou: “É importante que as investigações da Polícia Federal avancem para que a especulação não se sobreponha aos fatos”. Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), está assoberbado de trabalho: “O Senado tem uma capacidade limitada de investigação”.
O senador Delcídio Alaral (PT-MS), que presidiu a CPI dos Correios, indignou-se, ao tratar da suspeição de envolvimento com o dono da Gautama: “Fui investigado por onze meses durante a CPI dos Correios, minha mulher também e até minha mãe, que mora em Corumbá. Na Operação Têmis procuraram me envolver, dizendo que havia indicado um desembargador para o Tribunal Federal de São Paulo. Fica o questionamento: Por que aparece o senador DelcÍdio? É estranho. Fui investigado de fio a pavio, e saí com bom senso e transparência”. No dia 4 de abril, Delcídio viajou num avião alugado pelo amigo Gonzaga Salomon, que, por sua vez, pediu ajuda a Zuleido Veras, dono da Gautama, para que pagasse a conta do transporte, de R$ 24 mil.
“Se as investigações evoluírem um pouco, certamente vão chegar aos carlistas, é só uma questão de tempo”, disse o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), adversário (pra não dizer inimigo) do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). “Ao que parece, o deputado Paulo Magalhães (sobrinho de ACM) já foi envolvido e, se forem confirmadas as acusações, ele terá sérios problemas.” ACM falou mas, contraditoriamente, disse que ia calar - e não calou: "Não tenho nada a falar sobre Paulo Magalhães, acho apenas que um corruptor e corrupto de R$ 20 mil é insignificante. Mas, cada um deve pagar pelo que fez", afirmou. E não perdeu o jeito ACM de ser: “Desafio o Jaques Wagner (governador da Bahia, do PT) a apontar qualquer coisa na minha vida, como eu posso apontar na vida dele. No caso de Camaçari, inclusive, ele está envolvido. Ele só entende de coisas etílicas”.
Camaçari foi a primeira cidade a ter um prefeito do PCdoB, depois da volta do partido à legalidade, após o fim da ditadura militar. Sebastião Nery se referiu ao partido dos comunistas:
“Há 20 anos, desde que era diretor da empreiteira OAS e sobretudo depois que fundou, em 95, sua empresa Gautama, Zuleido era arroz de festa de rodas políticas, negócios públicos e financiamento de candidatos, em Brasília e na maioria dos estados, sobretudo no Norte e Nordeste.
“Zuleido e Caetano, com mais 44, estão presos na Polícia Federal, em Brasília, flagrados nos escândalos da Operação Navalha. Agora, ninguém o conhece (‘Nunca vi, não soube’). Virou um lambe-sola da República.
“Em 25 de novembro do ano passado, eleito governador da Bahia, Jaques Wagner recebeu em Salvador a ministra petista Dilma Rousseff. Para impressioná-la, passeou com ela por toda a baía de Todos os Santos, na portentosa lancha "Clara", um brinquedo de xeque, de seu amigo Zuleido.
“Luís Caetano
“A amizade dos dois é velha. Logo que assumiu a presidência do sindicato petroquímico de Camaçari, a segunda mais rica cidade do Estado, Wagner, inaugurando surpreendentes negociações com os empresários do maior pólo petroquímico do País, fez dali sua capitania hereditária. Em 2000, foi candidato a prefeito da cidade: teve 31%. Em 2002, a governador. “Perdeu.
Em 2004, lançou para a prefeitura seu mais fiel amigo e aliado, Luís Caetano, que era do PCdoB e saiu para entrar no PT, e o elegeu. Caetano abriu a prefeitura e suspeitas e invisíveis obras de aterros para a empreiteira de Zuleido, agora descobertas e detonadas pela PF. Wagner quer sumir do radar:
"‘Wagner teve seu nome citado em telefonemas entre integrantes da quadrilha investigada pela Polícia Federal. Está irritado com o envolvimento de seu nome nas investigações, depois que foi citado nas conversas telefônicas dos suspeitos, monitoradas pela Polícia Federal’ (‘O Globo’). ‘Jaques não quer falar. Nem da lancha, nem da prisão do prefeito de Camaçari, Caetano, seu amigo e, dizem as más línguas, seu caixa informal de campanha’ (‘Veja’)”.

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